Homilia Por Ecclesia

Queridos irmãos Cardeais, no qual saúdo a todos pela pessoa de Dominik Lacroix, Decano interno do Colégio Cardinalício;
Queridos irmãos Bispos, no qual saúdo a todos pela pessoa de Giovanni Pacelli, Prefeito do Dicastério para os Bispos;
Queridos irmãos Padres e Diáconos, no qual saúdo a todos pela pessoa de Pedro Henrique Omena, Prefeito do Dicastério para o Clero.
Queridos irmãos Religiosos, Religiosas, Consagrados, Consagradas, no qual saúdo pela pessoa de Dom Atanásio D'Aniello, Prefeito do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica.
Querida sra. Madalena Paula Priscila, Presidente da Cidade do Carmo.
Queridos irmãos e queridas irmãs, vos acolho e sejais bem-vindos ao início do meu Pontificado.

Há momentos na história em que o tempo parece suspender-se, e o silêncio fala mais alto do que todas as vozes. O Conclave é um desses lugares do Espírito. Ali, entre o peso da responsabilidade e o sopro da graça, a Igreja volta a aprender a escutar. Escutar a Deus, escutar o seu próprio coração, escutar o murmúrio do mundo que espera - muitas vezes sem o saber - um sinal vivo de esperança.

Hoje, esse silêncio desabrocha em palavra. Não uma palavra minha, mas a que o próprio Senhor pronuncia desde o princípio: “Tu és Pedro.”

Não há glória nisto, há cruz. Não há conquista, há entrega. Aquele que é chamado a presidir não se coloca acima, mas abaixo - sustentando, suportando e servindo.

Caríssimos irmãos, voltados para as leituras, na primeira, a visão do Apocalipse apresenta-nos a imagem da cidade edificada sobre o fundamento dos Apóstolos. Essa cidade não é uma construção de pedra, mas é um tecido vivo da fé, esperança e amor. Cada geração acrescenta-lhe um traço, uma ferida, uma beleza nova.

Quando lemos essas palavras, percebemos que a Igreja - e permitam-me dizê-lo assim - é um edifício que nunca se conclui. Há sempre algo por reparar, por purificar e por recomeçar. Deus edifica com a matéria frágil do humano. E talvez seja isso o mais divino de tudo.

O ministério que hoje me é confiado insere-se nessa lenta e paciente construção. Não me pertence, mas passa por mim. A pedra é escolhida, lavrada e colocada - e o edifício continua.

Pedro chama-nos a aproximar-nos da Pedra viva - que é Cristo. É Ele o verdadeiro fundamento. Todos os outros, inclusive aquele a quem se confia a missão de confirmar os irmãos, só têm sentido se, se deixam moldar por Ele.

A Igreja é chamada de “sacerdócio real”, e de “nação santa”. Estas palavras recordam-nos que o cristianismo não é uma adesão teórica, mas uma forma de ser: é participar na própria vida de Deus, fazer da existência uma prefeita oferenda, mesmo que seja constituída por pecadores.

O sucessor de Pedro e de Romano não é senão o primeiro chamado a viver isto. Não é um símbolo de poder, mas é um sacramento de fraqueza habitada através e pela graça.

Jesus pronuncia estas palavras em Cesareia de Filipe, um lugar fronteiriço, onde o sagrado e o pagão se cruzavam. E talvez seja significativo: a Igreja nasce sempre nas fronteiras - entre o humano e o divino, entre o medo e a confiança, entre o que somos e o que estamos chamados a ser.

“Tu és Pedro.” Esta é uma nomeação e uma ferida. É a promessa e o peso da fidelidade. Pedro não é escolhido por ser o mais forte, mas por ser aquele que cai e se levanta, que chora e ama, que, tendo negado, aprende a confiar. O primado de Pedro é o primado da fé provada. É o ministério da confiança no meio da dúvida, e da esperança no meio da noite.

Hoje, a Igreja eleva também a memória viva de Bonifácio III, meu predecessor, que partiu para o encontro com o Senhor. Ele já entrou na sua Páscoa infinita, onde o olhar humano cede lugar à luz sem ocaso.

Bonifácio foi um homem de discernimento e serenidade. Não procurou o ruído, mas a verdade. Viveu o ministério petrino com aquela discreta grandeza que só o amor autêntico O conhece. O seu testemunho permanece como um farol - não um brilho ofuscante, mas uma claridade humilde, que continua a guiar-nos, e eu pretendo dar continuidade ao seu papel.

Que ele, agora transfigurado na luz de Cristo, vivo e Ressuscitado, interceda por nós e por mim, que herdo o peso e a esperança do seu serviço.

Caros irmãos, a Igreja não começa hoje. Mas hoje, como sempre, é chamada a começar de novo. Cada eleição, cada novo tempo, é uma nova oportunidade para regressar à fonte - para recentrar tudo em Cristo. O mundo precisa menos de palavras e mais de presenças. Menos de defesas e mais de gestos. Menos de brilho e mais de verdade.

Mas o porquê de Pio? Porque pretendo ser um pontífice que através do sinal da piedade e da fidelidade possa manter a Igreja unidade. Pois todos os papas que foram Pio's, foram Papas que praticaram a humildade e defenderam a tradição secular da nossa igreja, porque somente isto: depois ''daquele que fez o bem'' (refiro-me ao nome de Bonifácio) surge agora aquele que vem para, através da piedade, unir a Igreja na fidelidade e na herança da nossa fé, unidade esta que nos levou a celebrar com júbilo a aproximação do nosso décimo-quinto aniversário de início do apostolado.

O Papa não é o senhor da Igreja; é o seu primeiro devedor. Cabe-me, portanto, uma só coisa: amar - amar com o mesmo amor com que Cristo olhou Pedro junto ao lago e lhe perguntou: “Amas-me?” Essa pergunta ecoa hoje em mim, e ecoará enquanto o coração bater.

A fé é o maior dos riscos, e a Igreja é o lugar onde esse risco se torna um dom. Que o Espírito Santo nos conceda a coragem de recomeçar sempre - não por força, mas por confiança. E que, no fim, quando o Senhor chamar este seu servo, possa dizer-lhe: “Apascentaste as minhas ovelhas; agora entra na alegria do teu Mestre.”

Assim seja. Amém.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Homilia Pro Eligendo

Criação - Rito