Homilia Pro Eligendo

Caríssimos Irmãos no Colégio Cardinalício,
queridos irmãos e irmãs em Cristo,

Dez dias se passaram desde que o nosso amado predecessor, o Sumo Pontífice Bonifácio III, foi chamado à Casa do Pai. No silêncio da oração e no recolhimento destes dias, o Senhor falou aos nossos corações, preparando-nos para este momento em que a Igreja inteira suspende o fôlego e eleva ao Céu um único clamor: “Emitte Spiritum tuum, et creabuntur, et renovabis faciem terrae.”

Hoje, reunidos junto do altar do Senhor, celebramos a Missa Pro Eligendo Pontifice. Não é apenas uma eleição humana que se aproxima — é um mistério de graça. O Espírito Santo, alma da Igreja, é quem verdadeiramente preside a este ato. A nós cabe, em humildade, discernir, escutar e obedecer.

I. O Espírito do Senhor está sobre nós

A primeira leitura (Is 61, 1-3a.6a.8b-9) coloca-nos diante da vocação messiânica: “O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu.”

Caríssimos irmãos, todo chamado na Igreja é, antes de tudo, uma unção. Não é fruto de cálculo humano, de simpatia ou de estratégia — é selo do Espírito. Assim também o será o novo Sucessor de Pedro. A unção que o distinguirá será a da cruz, da entrega e da fidelidade até ao fim.

Nesta hora, o mundo espera de nós santidade e lucidez, não habilidade política. O profeta fala de um enviado que consola os aflitos, cura os corações despedaçados e proclama um ano de graça. Assim deve ser o ministério petrino: não o trono da glória, mas o serviço da caridade.
“Servus servorum Dei” — o Servo dos servos de Deus — é título, sim, mas sobretudo é programa de vida.

II. Edificados na unidade da fé

Na segunda leitura (Ef 4, 11-16), São Paulo recorda que Cristo deu à Igreja apóstolos, pastores e mestres “para o aperfeiçoamento dos santos e a edificação do Corpo de Cristo”.

Queridos Irmãos, este Corpo é a Igreja una, santa, católica e apostólica — corpo que vive da unidade e cresce na caridade.
Sem a unidade, não há missão; sem caridade, não há verdade.
E é precisamente nesta tensão sagrada — unitas in veritate, caritas in servitio — que se define o ministério de Pedro.

A missão do novo Pontífice será confirmar os irmãos na fé, sustentar a comunhão entre as Igrejas e fazer resplandecer a presença de Cristo no coração do mundo contemporâneo, tantas vezes dilacerado pela indiferença espiritual, pela confusão moral e pela solidão do homem moderno.
Mas para isso, irmãos, é necessário que primeiro nós mesmos estejamos unidos em Cristo.
O Conclave não é um debate; é um Cenáculo.
Não é um conselho de homens; é um espaço de escuta ao Espírito.
Não é um voto político; é um ato de fé.

III. Permanecei no meu amor

O Evangelho de hoje (Jo 15, 9-17) recorda-nos as palavras do Senhor: “Permanecei no meu amor.”
E mais adiante: “Já não vos chamo servos, mas amigos.”

A amizade com Cristo é o centro da missão apostólica.
Sem esta comunhão pessoal com o Senhor, nenhum de nós pode discernir retamente.
Não escolheremos um nome, mas acolheremos uma vontade divina.
Não se trata de eleger quem nos agrada, mas quem Deus quer.
E isso só se alcança na intimidade do amor que escuta.

“Non vos me elegistis, sed ego elegi vos” (Jo 15,16): “Não fostes vós que me escolhestes, fui Eu que vos escolhi.”
Estas palavras ecoam nesta Basílica como no primeiro dia em que o Senhor chamou Pedro às margens do lago. Hoje, de novo, Cristo dirá o seu “Ego elegi vos” — e nós responderemos com o “Ecce, Domine” da fé e da obediência.

IV. Exortação final: Docilidade ao Espírito

Caríssimos Irmãos, nestes dias de Conclave, deixemo-nos conduzir pelo Espírito Santo.
Entremos no silêncio orante.
Levantemos o coração acima das nossas preferências, das nossas geografias, das nossas histórias.
O Espírito sopra onde quer — ubi vult spirat — e muitas vezes surpreende os próprios instrumentos que escolhe.

O mundo olhará para as portas da Capela Sistina; mas o Céu olhará para os nossos corações.
Que a nossa oração seja simples e verdadeira:

“Veni, Creator Spiritus, mentes tuorum visita, imple superna gratia, quae tu creasti pectora.”

Que Maria, Mãe da Igreja, nos acompanhe com sua intercessão silenciosa, como no Cenáculo.
E que, ao sair desta celebração, cada um de nós leve consigo a paz de quem sabe que é Deus quem guia a barca de Pedro.
Porque, como disse Santo Agostinho, “Petrus navigat, Christus gubernat.”
Pedro rema, mas é Cristo quem conduz o leme.

Amém.

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