Homilia III Domingo Quaresma
DÁ-ME DE BEBER (Jo 4,7). A quaresma, noutros tempos, correspondia à última etapa de preparação dos catecúmenos para os sacramentos da iniciação cristã. Quando se generalizou o baptismo das crianças, o catecumenado acabou e essa vertente da quaresma ficou ofuscada. No entanto, mantiveram-se, na Eucaristia dominical, as leituras escolhidas para a formação dos catecúmenos.
O diálogo de Jesus com a samaritana fazia parte dessa formação. Curiosamente, ele acontece no cenário geográfico, social e temporal mais improvável que imaginar se pudesse. Com efeito, os judeus desprezavam os samaritanos. Um judeu não dirigia a palavra a uma desconhecida, ainda por cima sendo samaritana. Para cúmulo do inédito, encontrando-se junto ao poço e ao meio dia, hora do calor, quando ninguém vinha buscar água.
Foi nessas condições que tudo aconteceu. Jesus disse à mulher: «dá-me de beber». A mulher reagiu de acordo com os estereótipos sociais do tempo. Jesus, porém, deu outro tom à conversa. E foi dizendo se soubesses quem é aquele que te pede de beber, tu é que lhe pedirias e Ele te daria uma água viva, que tira a sede para sempre. A mulher pediu-lhe dessa água. A conversa alongou-se e a palavra de Jesus penetrou fundo no íntimo da mulher. Sentiu-se transformada interiormente. Em seguida, correu a dar a boa nova aos seus conterrâneos e pediu-lhes que viessem conhecer o Messias. Eles vieram e Jesus ficou com eles durante dois dias.
A água viva que jorra para a vida eterna, isto é, o dom divino que purifica a alma, tinha sido derramada no seu coração e a mulher, de pecadora que era, transformou-se em discípula de Jesus e missionária da boa nova, junto dos habitantes de Sicar.
O mesmo deveria acontecer com todos os catecúmenos, que, no baptismo, recebem o dom de Deus, essa água divina da graça, que os transforma em discípulos de Jesus Cristo, filhos de Deus e templos do espírito Santo.
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