Caríssimos irmãos no Senhor,
Veneráveis concelebrantes,
Ilustres irmãos e irmãs em Cristo,

Reunimo-nos hoje nesta sagrada e milenar Basílica Vaticana, coração pulsante da Catolicidade e sede do magistério apostólico, para celebrarmos com solene reverência e jubilosa esperança a Ordenação Episcopal dos Reverendíssimos Presbíteros Robert Sarah Arns e Victor Monfort, chamados, por desígnio eterno de Deus e pela autoridade da Santa Mãe Igreja, à plenitude do Sacramento da Ordem.

As palavras do Profeta Jeremias, proclamadas na primeira leitura, ressoam com a força do eterno: “Antes de te formar no seio materno, eu te conheci; antes de saíres do ventre, eu te consagrei”. Este vaticínio não é apenas memória profética, mas atualidade viva e operante em cada vocação autêntica, sobretudo na vocação episcopal, que é eleição divina, não ambição humana; é serviço sacrificial, não honra mundana.

No mistério insondável da eleição divina, os senhores, caríssimos irmãos Robert e Victor, foram preparados desde sempre para este dia. Não por mérito próprio, mas por graça superabundante. A Igreja, na sua sabedoria, vê nesta eleição não um prestígio, mas uma cruz. Pois o bispo, na economia sacramental do Corpo Místico, é testemunha do Ressuscitado, é pastor do rebanho de Deus, é guardião da fé apostólica, é pai dos pobres e mestre dos humildes, é esposo da Igreja particular que lhe será confiada.

Na segunda leitura, o Príncipe dos Apóstolos, São Pedro — cuja cátedra nesta Basílica é sinal perene da unidade — exorta-nos com autoridade pastoral: “Apascentai o rebanho de Deus que vos está confiado, não por coação, mas de boa vontade, como Deus quer; não por interesse sórdido, mas com dedicação”. A exortação petrina é clara: o ministério episcopal não é governo no sentido humano, mas é diaconia plena — é paternal solicitude pela santificação das almas, é vigilância orante e incessante pelo bem do povo de Deus, é fidelidade indômita à Verdade revelada, ainda que esta verdade seja hoje repelida por corações endurecidos.

O bispo, configurado a Cristo Cabeça, torna-se ícone visível daquele que se entregou até à morte e morte de Cruz. Não há lugar para a mediocridade no episcopado. O bispo é chamado à heroicidade da virtude, à fortaleza na provação, à humildade no serviço, à integridade na doutrina. Ele é pontífice, isto é, construtor de pontes entre Deus e os homens, entre o Céu e a terra. Ele é sucessor dos Apóstolos, e como tal, deve viver, pregar e, se necessário, morrer como eles.

Eis então que, no Evangelho de São João, o Senhor — no auge do seu amor, sabendo que chegara a sua hora — levanta-Se da ceia, depõe o manto e cinge-Se com a toalha. Aquele que é o Mestre e o Senhor curva-Se para lavar os pés dos discípulos. Eis o modelo supremo do episcopado: Cristo Servo, Cristo Humilhado, Cristo que lava os pés.

Ser bispo, irmãos caríssimos, é viver perpetuamente ajoelhado diante dos irmãos, com a toalha do serviço e a bacia da caridade. O ministério episcopal não se exerce de cima de tronos, mas nos degraus da cruz. A autoridade do bispo não nasce da força, mas da coerência com o Evangelho; não se afirma por palavras, mas pelo testemunho. O bispo que não se curva para lavar os pés do seu povo, cedo ou tarde, trairá a sua missão.

Cristo, ao levantar-Se do chão após lavar os pés dos seus, diz: “Dei-vos o exemplo, para que, assim como Eu vos fiz, vós façais também”. Este é o mandamento do Senhor para os seus bispos: fazei como Eu fiz. Dai a vida. Suportai o opróbrio. Resisti à heresia. Confiai na graça. Amai até o fim.

Meus queridos irmãos Robert Sarah Arns e Victor Monfort,

Hoje sereis configurados ao Cristo Bom Pastor, Pontífice eterno e Cabeça da Igreja. Hoje recebereis o báculo não como cetro de domínio, mas como cajado do pastor que procura as ovelhas dispersas. Recebereis o anel, sinal da vossa união esponsal com a Igreja. Sereis ungidos com o óleo da plenitude sacramental, e sobre vós repousará o Espírito Santo que outrora se comunicou aos Apóstolos no Cenáculo.

Mas não vos iludais: este dia, embora repleto de alegria, marca o início de uma via dolorosa, pois o servo não é maior do que o seu Senhor. Sereis chamados a chorar com os que choram, a resistir aos ventos da mentira, a proclamar a verdade mesmo quando esta custar a popularidade, o conforto ou a paz aparente. Em tempos de confusão doutrinal, de crise moral e de tibieza espiritual, o mundo precisa de bispos santos, de bispos fiéis, de bispos que não se curvem ao espírito do tempo, mas que estejam ancorados na Tradição viva da Igreja.

Sede bispos de oração. Sede bispos da Eucaristia. Sede bispos de Maria. Sede bispos do silêncio e da cruz.

E quando o peso da mitra vos parecer demasiado, quando a solidão vos visitar nos desertos da missão, olhai para a Cruz. Olhai para o Sagrado Coração traspassado. E ali, no silêncio do Calvário, renovai o vosso “sim”, sustentados pela graça que jamais falta àquele que verdadeiramente ama.

Concluo, irmãos, com as palavras de São Gregório Magno, grande pastor da Igreja:
"Quem é colocado como sentinela do povo, deve vigiar noite e dia, atento ao bem das almas; e, quanto mais alto for colocado, tanto mais profundamente deverá dobrar o joelho do seu coração."

Que os novos bispos da Santa Igreja, Robert Sarah Arns e Victor Monfort, sejam autênticas sentinelas, firmes na fé, ardentes na caridade e inabaláveis na esperança. Que Maria Santíssima, Rainha dos Apóstolos, os cubra com seu manto. E que Pedro, cuja Cátedra nos sustenta na unidade, interceda por vós nesta nova e altíssima missão.

Ad multos annos!
Amen.

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