Amados irmãos e irmãs em Cristo,
Com profunda emoção e espírito de ação de graças, encontro-me hoje neste Santuário de Fátima, coração mariano de Portugal e altar espiritual do mundo, por ocasião da minha primeira Viagem Apostólica a este lugar escolhido pela Providência. Aqui, onde o Céu tocou a terra, elevamos o nosso olhar para Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, para escutar, uma vez mais, o apelo perene do Evangelho que ressoa na história através da sua presença materna.
As leituras que a liturgia hoje nos propõe oferecem-nos uma chave de leitura profundamente unitária do mistério da salvação, no qual Maria ocupa um lugar singular. No livro do Génesis (Gn 3, 9-15.20), após a queda, Deus dirige-se ao homem e à mulher, e no meio do drama do pecado faz ressoar uma promessa: a vitória definitiva sobre o mal. A tradição cristã viu nesta passagem o chamado Protoevangelho, onde já se anuncia a Mulher e a sua descendência, em oposição à serpente. Maria surge, assim, como a Nova Eva, inteiramente associada à obra redentora do Novo Adão, Cristo Senhor.
A segunda leitura, do Apocalipse (Ap 11, 19a; 12, 1-6a.10ab), eleva-nos à contemplação da “Mulher vestida de sol”. Esta visão grandiosa revela o drama cósmico entre o bem e o mal, mas também a certeza da vitória de Deus. A Mulher é simultaneamente figura da Igreja e imagem de Maria, aquela que gera o Filho destinado a governar todas as nações. Em Fátima, esta Mulher aparece não como sinal de poder terreno, mas como Mãe solícita, que protege, exorta, chama à conversão e aponta para o triunfo do Coração Imaculado.
No Evangelho segundo São João (Jo 19, 25-27), encontramos Maria aos pés da Cruz. Ali, no momento supremo da entrega redentora de Cristo, Jesus confia o discípulo à Mãe e a Mãe ao discípulo. “Eis a tua mãe.” Estas palavras não são apenas um gesto de piedade filial; são um ato solene de constituição de Maria como Mãe da Igreja. Em Fátima, esta maternidade espiritual manifesta-se com particular clareza: Maria permanece junto à Cruz da humanidade ferida, acompanhando os seus filhos com ternura e firmeza.
Neste lugar santo, não podemos deixar de recordar os Santos Francisco e Jacinta Marto, crianças simples e puras, mas espiritualmente amadurecidas pela graça. Neles vemos como a mensagem de Fátima não é uma teoria, mas uma vida transformada. Francisco, contemplativo, apaixonado por Deus, oferecia-se em silêncio pela consolação de Jesus. Jacinta, ardente e compassiva, consumia-se em sacrifícios pela conversão dos pecadores e pela paz no mundo. Ambos compreenderam que a verdadeira resposta a Maria é a santidade vivida no quotidiano, a oferta de si mesmo por amor.
Fátima não é apenas memória do passado; é profecia viva para o presente e para o futuro da Igreja e do mundo. Com razão afirmou o Papa Bento XVI: “Estão equivocados aqueles que pensam que a mensagem de Nossa Senhora de Fátima terminou.” De facto, enquanto houver pecado a ferir a dignidade humana, guerras a destruir povos, indiferença a obscurecer consciências e corações fechados ao amor de Deus, a mensagem de Fátima permanece atual: oração, penitência, conversão, reparação.
Aqui, Maria não nos apresenta um caminho alternativo ao Evangelho, mas conduz-nos ao seu centro. O seu apelo é profundamente cristocêntrico: “Fazei tudo o que Ele vos disser.” Em Fátima, Maria ensina-nos a rezar, especialmente o Santo Rosário, a oferecer os sofrimentos unidos ao sacrifício de Cristo e a confiar, mesmo nas horas mais sombrias, na misericórdia de Deus.
Nesta minha primeira peregrinação apostólica a Fátima, uno-me às multidões de peregrinos que, ao longo de gerações, aqui trouxeram as suas lágrimas e esperanças. Confio à intercessão de Nossa Senhora os povos de Portugal, a Igreja espalhada pelo mundo e toda a família humana. Que o exemplo luminoso dos Santos Francisco e Jacinta nos estimule a uma fé simples e radical, capaz de transformar o mundo a partir do coração.
Que Maria, Senhora do Rosário, Mãe da Igreja e Estrela da esperança, nos conduza sempre a Cristo, para que, fiéis ao Evangelho, sejamos construtores da paz que o mundo tanto necessita. Ámen.
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