Homilia - 12 de dezembro
Amados filhos e filhas,
irmãos e irmãs em Cristo,
Nesta noite santa, sob o manto do céu de Fátima iluminado por milhares de velas, o nosso coração eleva-se em ação de graças. Aqui, neste recinto bendito, onde a fé simples se tornou profecia e a luz frágil de duas candeias infantis iluminou o mundo inteiro, celebramos a Palavra de Deus e acolhemos, mais uma vez, a presença materna de Maria.
A Palavra que nos foi proclamada abre-nos horizontes de esperança e responsabilidade.
O vidente do Apocalipse diz-nos: “Vi um novo céu e uma nova terra… Eis a morada de Deus com os homens” (Ap 21,1.3). Esta não é uma promessa distante, nem uma consolação abstrata. É o anúncio de que Deus não se resigna ao sofrimento, à violência, à guerra, à divisão. Deus não aceita que a história humana termine em ruínas. Ele faz novas todas as coisas. E fá-lo começando no coração dos seus filhos.
Esta visão encaixa-se profundamente no mistério de Fátima. Aqui, Maria não veio anunciar medo, mas futuro. Não veio condenar, mas chamar à conversão. Não veio apagar a história, mas permitir que Deus a recriasse a partir de corações disponíveis. O novo céu e a nova terra começam quando o homem deixa Deus habitar na sua vida.
Mas como se constrói esta nova criação? O Evangelho desta noite responde-nos.
Aos pés da cruz, junto do sofrimento extremo, Jesus vê sua Mãe e o discípulo amado. E pronuncia palavras que mudam para sempre a história da humanidade: “Mulher, eis o teu filho… Eis a tua Mãe” (Jo 19,26-27). Naquele momento, Maria deixa de ser apenas a Mãe de Jesus e torna-se Mãe da Igreja, Mãe da humanidade ferida, Mãe de todos aqueles que, como o discípulo amado, permanecem junto da cruz.
Fátima é, antes de tudo, uma escola junto da cruz. Maria ensina-nos a não fugir da dor do mundo, mas a permanecer, a interceder, a oferecer. Ela ensina-nos que a verdadeira luz não nasce da ausência de sofrimento, mas da fidelidade no meio dele.
Nesta noite da Procissão das Velas, cada chama que levantais não é apenas um gesto de piedade; é um compromisso. A vela é pequena, frágil, facilmente apagável pelo vento. E, no entanto, quando se unem milhares de velas, a noite transforma-se. Assim é a Igreja. Assim é o mundo novo anunciado pelo Apocalipse.
Maria, aqui em Fátima, acendeu duas candeias humildes e puras: Francisco e Jacinta Marto. Não eram poderosos, não eram sábios segundo os critérios do mundo, não tinham voz pública nem influência social. Tinham, porém, um coração aberto a Deus. E isso bastou para que se tornassem faróis de paz, de reparação, de amor oferecido.
Francisco ensinou-nos a adorar em silêncio. Jacinta ensinou-nos a sofrer oferecendo. Ambos ensinaram-nos que a santidade não é fuga do mundo, mas entrega total a Deus pelo mundo. As suas vidas proclamam que o novo céu e a nova terra começam quando alguém aceita ser luz, mesmo consumindo-se.
Amados filhos e filhas, o mundo de hoje tem necessidade urgente de faróis. Não de luzes agressivas que cegam, mas de luzes firmes que orientam. Faróis de paz num mundo dilacerado por guerras. Faróis de verdade num tempo de confusão moral. Faróis de esperança onde muitos perderam o sentido da vida. Faróis de evangelização numa sociedade que esqueceu Deus.
Ser farol não significa impor, mas testemunhar. Não significa dominar, mas servir. Não significa gritar, mas permanecer aceso.
Maria não falou muito em Fátima; mostrou um caminho. Um caminho de oração, de conversão, de penitência, de amor. Um caminho que conduz ao coração do seu Filho e, por Ele, ao coração do Pai.
Nesta noite, deixai que Maria vos tome pela mão, como tomou o discípulo amado. Deixai que ela vos ensine a acolher uns aos outros como irmãos, a transformar a dor em oferta, o medo em confiança, a noite em luz.
Que cada vela que hoje brilha neste santuário se torne um compromisso vivido amanhã nas vossas casas, nas vossas famílias, no vosso trabalho, na sociedade. Que cada um de vós seja uma pequena chama que anuncia, com a vida, que Deus faz novas todas as coisas.
E então, verdadeiramente, começará já entre nós o novo céu e a nova terra prometidos.
Assim seja.
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